quinta-feira, 2 de julho de 2009

Painel - Regulação bioquímica

Ao apresentar ao auditório meu painel, notei dezenas de olhinhos brilhando, encantados com a frase nominal "Bioquímica Sensu Stricto". Uns imaginavam, será um parente distante da Drosophila Melanogaster? Será uma magia do Harry Potter, tipo Avada Kedavra? Será o nome de um Grego que usava Canabis Sativa? Ou será uma poesia de Virgílio, Bucólicas ou Éclogas?
Bem, na verdade vós enganarde-vos a vós mesmos, vulvas, viris e virados! Sensu Stricto é uma expressão utilizada nas línguas latinas modernas adaptando a expressão latina Stricto Sensu, ou seja, num sentido mais restrito do tema. Assim, com esse painel, me propus a abordar a bioquímica propriamente dita; estritamente a parte bioquímica do diabetes.

Para resumir a meia hora que gastei falando quase sem parar, vou começar ressaltando uma ideia (olha que inovador: sem acento) que a gente tentou deixar clara em alguns painéis. Quando se fala em diabetes, historicamente há uma referência à poliúria, ou seja, o excesso de urina é o mais claro e, talvez, o principal quadro geral da doença. Assim, não é possível se descrever a bioquímica do diabetes por um única caminho, por uma linha de pensamento apenas, já que diversas causas podem se associar à poliúria.
A ênfase acaba sendo dada ao diabetes Mellitus devido à sua grande ocorrência em todo o mundo, especialmente a tipo II. Entretanto, há, por exemplo, o diabetes insipidus, que possui uma causa bastante adversa dos outros tipos, sendo que sua ocorrência é muito baixa nas populações em geral. Para se ter uma ideia, por causas genéticas há apenas 8 famílias no Brasil que possuem o fator gerador desse tipo da doença. Então vamos por partidos:

DM (Diabetes Mellitus)
Em todos os tipos as alterações se dão em relação ao metabolismo de carboidratos.
Conceitos básicos em relação ao metabolismo de carboidratos se referem à regulação por meio de hormônios, que, aliás, tem sido bastante discutidos nesse belo blog. Importante saber sobre a insulina, que age basicamente nas vias anabólicas do metabolismo (produção de glicogênio, lipogênese, proteogênese...), e o glucagon (agon=agonismo, antagonia), que age, opostamente, nas vias catabólicas (glicogenólise, lipólise, proteólise...).
O balanceamento desses hormônios promove a regulação da glicemia, que em diabéticos aparece alterada.

Tipo I
O erro, em comparação com a maioria dos humanos, se dá na produção da insulina. Normalmente, é provável, por causa autoimune: o próprio corpo degenera parte das células beta pancreáticas produtoras do hormônio, o que faz haver uma redução na insulinemia. O baixo nível de insulina promove um estado semelhante ao jejum, pois, apesar de haver sacarídeos no sangue, as células que possuem transportadores insulinodependetes (glut4) não conseguem absorvê-los para metabolizá-los. Assim, há uma inversão nas vias do metabolismo, ocorrendo a elevação no nível de glucagon e, por conseguinte, das degradações. Aí já viu o rolo: hiperglicemia, poliúria, danos a tecidos, elevação de corpos cetônicos e tudo mais...

Tipo II
O erro, quando se pondera com os demais homo sapiens, se dá na recepção da insulina.
A quantidade de receptores de insulina nas membranas celulares que os possuem não é fixo, se adaptando à quantidade de hormônio circulante. Quando os níveis são altos, há menos receptores nas membranas, sendo que, ao persistir esse estado de estímulo hormonal, a essa quantia cai definitivamente, gerando um estado de resistência ao hormônio e, portanto, aos seus efeitos. Aí já viu o rolo: hiperglicemia, poliúria, aumento do nível de insulina para compensar e posterior exaustão das células beta e tudo mais...

Tipo Gestacional
O erro, quando consideram as demais gestantes, se dá no aumento da insulina que deveria acontecer no 3º trimestre da gravidez para compensar a resistência inerente às futuras mamães.
Costumeiramente, nos dois primeiros trimestres da gravidez há grande ativação das vias anabólicas para a preparação do crescimento, no último, do rapazinho que espera avidamente para pôr o pé na mãe Terra, demarcada por bandeiras a custo de sangue, e poder ser valorizado de acordo com bandeira que ostenta no peito.
Bem, a ativação dessas vias pede um alto nível de insulina, sendo que a resistência a ela começa a ocorrer posteriormente devido à presença de outros hormônios, como o GH. Assim, para compensar, a progenitora aumenta seus níveis de insulina no fim da gravidez. Quando esse aumento não é suficiente para se contrapor à resistência, se gera um quadro clínico de diabetes Mellitus, tendo, então, a mulher, maior propensão a adquirir o tipo II da doença, devido à resistência. Aí já viu o rolo: hiperglicemia, poliúria, crescimento excessivo do bebê, com peso, muitas vezes, maior que 4kg...


Diabetes Insipidus
Esse tipo não se relaciona com o metabolismo de carboidratos, mas sim com a antidiurese e hormônios antidiuréticos (ADH), como o arginina-vasopressina.
Sendo a hipófise posterior o local onde se inicia a cascata hormonal que desencadeia a produção de ADH, problemas em sua topografia, como tumores na área, podem desencadear o maldito diabetes.
Outro importante fator de geração do diabetes insipidus é o genético. Em 98% dos casos genéticos, há problemas, se comparado aos demais cristãos, nos receptores do ADH, gerando a ineficiência de sua sinalização e consequente perda excessiva de água, que faz se baixar o volume sanguíneo e a concentração de solutos. Assim se, por exemplo, a glicemia do diabético se encontrar alta, provavelmente seja pela diminuição do volume sanguíneo, e não pelo aumento da quantidade de glicose. Aí já viu o rolo: poliúria, desidratação profunda, problemas intestinais e tudo mais...



Bibliografia (indicada no painel)
http://saude.hsw.uol.com.br/
http://www.scielo.br/
http://en.wikipedia.org/wiki/Diabetes
http://www.pathology.leedsth.nhs.uk/Pathology/
http://www.medscape.com/

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